domingo, 16 de novembro de 2008

a história de uma bota esquerda alentejana

"A Bota Antes"
por Alberta Lemos

Nasceu, nasceu. Cresceu, cresceu.

Ainda semente a bota percorreu quase 500 Kms para poder nascer.
Nova e forte, num chão novo e forte.

A bota queria ser alguém. E não é a bota já alguém? A base de alguém, o seu chão, o porto seguro, o equilíbrio, a terra pisada, o real mundo. E pois, como gente queria amigos. Amigos e muitas viagens. Amigos com cães para passear nos montes. Amigos com beijos para passear na praia. E amigos quietos, amigos-ouvidos-tesouros, apenas para ficar sentados, noite, dia, sol e chuvas.

É a esquerda, dizem que a da emoção, ligada a um pedaço de cor não tão vermelha como o imaginado, que bate e que chora. Muitas vezes. Vezes que não são mais importantes do que os caminhos que ela percorre.

Ah! Esqueci-me de vos contar que a bota nasceu num mês de Maio do ano de 2005. Um Maio cor-de-laranja, lembro-me perfeitamente. Nasceu assim simples, em plena tarde numa calçada [dizem que histórica e digna de muitas memórias], numa cidade sem guardas, de muitos reis e rainhas.

Um dia a bota queria pisar muito e foi a Espanha. Longe para uma bota recém-nascida! Ela gostou de sentir calor e sul... achou até que poderia ser de outros cantinhos do mundo...

Abram-se então as portas dos castelos e que grite a mensageira:
" - Ei-la aqui, Vossas Majestades, para com ela fazerdes a viagem! Qualquer viagem. Uma viagem. A VOSSA VIAGEM!"