segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

assim se começa a caminhar um mundo novo

O dragão apareceu no meio das coisas normais. Não sabia bem como ser. Como ser dragão num mundo onde os dragões não existem. Onde as coisas são reais. É este o seu problema. Por um lado, sente-se fascinado com as coisas deste mundo [o nosso], por exemplo, formas de transporte como as carrinhas [as pessoas deslocam-se pelo chão!]; as vozes das pessoas [delicia-se a ouvi-las mas não compreende o significado!]. Por outro lado, sente-se intimidado com tamanho grau de normalidade... Fica expectante, sem se mexer, no meio das pessoas e das coisas.

Quando aparece a menina-anjo tudo começa a desenrolar-se como um novelo de lã. A menina-anjo sabe bem o que é estar entre as coisas da terra e as coisas dos outros lados. Aproxima-se devagar, envolve o dragão com a sua voz doce, e o dragão sossega e confia. Assim começa um estranho caso de amor... No lugar intermédio entre o "tu" e o "eu", no meio de um nós confuso, mas cheio. Sem dúvida muito cheio. Rico de muitas vozes e muitas mãos que abriram caminho para o dragão.

E lá foi ele outra vez de viagem.

Antes de partir, o dragão disse-me algumas coisas importantes. Que foi muito bom, mesmo muito especial poder transformar-se no Bairro dos Navegadores. Que foi muito bem tratado, com força e imaginação, com carinho e protecção. E pediu-me, se faz favor, que vos agradecesse.

Então, eu passo a mensagem: aos meninos e meninas do 3ºano, à Prof. Vanessa, ao Efthímios, à Paula, ao Alexandre, ao Tiago: Obrigado!

Ou melhor:
- "<^|?"#!!" ["Obrigado"] - foi o que disse o dragão numa língua estranha.










quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

é um dragão!


Pois é, depois das muitas sugestões de transformação, a ovelha precisou de uma noite, um dia e mais uma noite para pensar. E hoje de manhã ainda estava confusa. A Paula, que ontem teve a oportunidade de jantar com a ovelha, explicou: a ovelha não sabia se gostaria mais de se transformar num quadrado e arranjar uma casa confortável e quentinha para morar [com todos os objectos que há nas casas confortáveis e quentinhas, cama, almofada, chinelos, sofá, relógio, candeeiro,...]; ou se gostaria mais de ser um pássaro e poder ver de cima as coisas lá em baixo [as árvores, os cães, os gatos e os patos]; ou se gostaria ainda mais de ser um ser fantástico, uma espécie de dragão-diabo-monstrinho, e aparecer no mundo das coisas de todos os dias, e ver como se arranjava na vida normal. Nesta última hipótese o dragão poderia contar com a ajuda de uma menina muito especial que, na sua pick-up [que é uma espécie de carrinha espectacular] com mala sem fundo, circularia pelo mundo a resolver problemas.

hum... ovelha indecisa... tantas ideias boas!

Foi preciso uma votação para finalmente ficar decidido.
E nós decidimos que a ovelha se havia de transformar num DRAGÃO.



Tal como da última vez que aconteceu uma transformação [no último encontro em Évora], nós dividimo-nos em 4 grupos de especialistas: os projectistas [que desenharam as formas do dragão e da pick-up numa folha de papel muito grande]; os construtores [que transformaram a ovelha num fantástico dragão verde com asas e pintas de muitas cores, língua de labaredas e dentes ferozes]; os cenógrafos [que construíram a pick-up com mala sem fundo, a menina-anjo, 3 árvores, e 1 casa cor-de-rosa com 1 porta e 2 janelas]; e os conselheiros, que pensaram, pensaram e chegaram às seguintes conclusões:

1. o dragão sente-se muito sozinho sem a sua família e os amigos
2. o dragão achou este mundo muito diferente; ele não conhece os seres humanos
3. um dia, ao olhar para o céu, viu um anjo e, para o chamar, deitou fogo pela boca
4. o dragão achou as carrinhas muito interessantes porque, no mundo dele, os animais voavam para se deslocarem
5. ele adorava ouvir as vozes das pessoas mas não conseguia falar com elas; então, piscava os olhos e gesticulava para falarem com ele






uma ovelha nas nossas mãos


Uma ovelha chegou, com a sua espada vermelha, ao Bairro dos Navegadores. Diz que vem do Alentejo, uma terra que fica para além do rio Tejo, o nosso rio Tejo, aquele que conhecemos melhor, ou conhecemos o seu nome, já o ouvimos no ar. É o rio que passa em Lisboa. E Lisboa fica perto. Fica perto?!

Pois esta ovelha já caminhou muito, e veio até aqui, para nós a transformarmos. Numa outra coisa completamente diferente. A ovelha sabe muito bem o que é isso de ser transformado noutra coisa. Ela já foi transformada. Ela já foi outra coisa que não era ovelha. E também sabe que é quando encontramos pessoas novas que qualquer coisa de muito poderoso acontece em nós. Transforma-mo-nos, mudamos de forma, possivelmente até ficamos maiores. É verdade! A ovelha veio até ao Bairro para nós, todos os que aqui estamos em roda, a transformarmos no que quisermos!
A arte tem este poder. De fazer aparecer coisas novas partindo de coisas que já existem.

Então, com esta linha que veio do Alentejo, damos um à nossa volta, e, do lado de dentro, podemos começar...




Com a ajuda do Efthímios e da Prof.ª Vanessa, um grupo de meninos e meninas do 3ºano, experimentou, através de movimento e dança, ser outras coisas: nuvem, carro, árvore, dragão. Coisas que a ovelha também podería ser... Desenhamos as nossas propostas, disse-mo-las em grupo, tivemos ainda mais ideias, e ficou combinado que a ovelha iria pensar sobre estas possíveis transformações.

Será que a ovelha se vai transformar num pássaro, num quadrado ou num dragão? Será que vai andar pela terra, voar pelo ar e as nuvens ou vai ter poderes fantásticos e atravessar dimensões e ficções num abrir e fechar de olhos?

Amanhã fica decidido.

A a transformação acontece.
E, com ela, um mundo inteiro vai passar a existir.

Um mundo novo para a ovelha na sua nova forma, e para nós também.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

o caminho dos navegadores

A ovelha caminha em direcção a Oeiras, mais propriamente ao Bairro dos Navegadores, onde fica a EB1 Pedro Álvares Cabral, uma escola MUS-E. De 12 a 16 de Janeiro, esta ovelha será transformada, por um grupo de meninos e meninas do 3º ano, noutra coisa que não podemos antecipar o que será. Aí reside todo o poder da criação de um nós . Tudo é possível e só sabemos quando acontece...

Foi em Novembro de 2008 que o projecto espaço de nós começou a incluir em movimento. A primeira intervenção e o primeiríssimo encontro em que se fizeram nós aconteceu em Évora na EB1 da Cruz da Picada, no MUSEpe [MUS-E programa escolhas], que acolheu o projecto de braços abertos no âmbito das actividades da Oficina dos Saberes. Três grupos, cada um constituído por cerca de 20 crianças, o professor titular e um artista MUS-E, participaram, em diferentes áreas de expressão, na transformação de um objecto, não só na sua forma plástica mas também na invenção de uma arquitectura dramática e simbólica de um mundo novo para esse novo objecto habitar.

Assim, o objecto - uma bota esquerda alentejana, inquieta, curiosa - iniciou uma aventura nómada e metamórfica. Em Évora transformou-se em "ovelha exploradora que quer passear pelos campos e subir até às nuvens".

Começámos por dar um grande à nossa volta e, do lado de dentro, pusemo-nos a pensar, a ouvir, a imaginar, a decidir e a construir. Fomos especialistas transformadores: desenhadores, construtores, cenógrafos, pensadores, conselheiros, escritores, actores. Fomos todos criadores. E a ovelha apareceu e seguiu viagem.

Próxima paragem: Bairro dos Navegadores, Oeiras.
Quem sabe no que se transformará...

E, para que todos os criadores [os que já intervieram e os que ainda intervirão] possam acompanhar o percurso do objecto e dos mundos que, à sua volta, vão sendo criados, existe este espaço, um blog que é também uma espécie de ou o lugar onde o nós reside sempre que o quisermos visitar. É o espaço virtual para a continuidade do Encontro, para as memórias e para os desejos, para a partilha de informações, textos e imagens.

Neste projecto afirma-se a efemeridade da arte e a continuidade dos laços que através dela se unem. Identidades múltiplas, heterogéneas, são reafirmadas na força de um nós.