segunda-feira, 10 de novembro de 2008

como tudo começou a começar...

Este projecto começou a ser semeado, como ideia e primeira experiência, em 2005, no MUS-E da escola da Cruz da Picada em Évora, com alunos do 2ºano e do 4ºano [de curriculo funcional]. Foi integrado nas áreas da plástica e do teatro, estendendo-se depois ao projecto de final do ano FEIRA DO IMAGINÁRIO. Tomámos como objecto a cadeira, e recolhemos uma série de cadeiras abandonadas, postas de lado em casa ou mesmo deixadas perto de contentores de lixo.

“O PROJECTO DAS CADEIRAS, proposto a uma turma do 4ºano, consistia em partir do objecto – cadeira – e desconstruir, desmontar, destruir, para depois descobrir um conjunto de novas formas de fixar esse inesperado e original objecto, pondo-o a existir num dado espaço. Trabalhou-se a ideia de mutabilidade de função ou funcionalidade de um objecto, através da alteração da sua estrutura inicial [pela eliminação de partes suas constituintes, pela colagem de outras que lhe são estranhas] e a atribuição de uma nova função, a fixação de uma nova estrutura, de um novo nome, de um novo universo de possibilidades para a sua utilização e fruição. O UNIVERSO DAS CADEIRAS, foi a segunda fase do projecto levada a cabo por duas turmas do 2ºano. Terminado o processo de transformação plástica dos objecto-cadeiras, os alunos construíram, para estes novos objectos, novos mundos, aos quais atribuíram uma rede de sentidos. Depois, com a animadora de dança, exploraram as possibilidades de movimento, acção e dramatização em torno destes novos objectos: a cadeira que voa; a moto-5; a carroça; a cadeira baloiço-no-jardim-encantado; e a cadeira com antena para contactar com o espaço.”

[in relatório final MUS-E 2005]

A experiência do “projecto das cadeiras” e sua exposição na Feira do Imaginário, foi posteriormente apresentada no âmbito do Visual Arts Seminar de Glasgow [SET07], organizado pela Fundação Internacional Yehudi Menuhin e pelo MUS-E Scotland, como objecto de reflexão de boas práticas. No workshop que orientei, propus que os artistas participantes interviessem não sobre cadeiras, mas sobre variados objectos: um livro, um dossier de argolas, um colar, um brinquedo, um sapato. As transformações revelaram novos e surpreendentes objectos. E novos mundos para esses objectos.

Desta primeira e segunda situação de experimentação prática, transporto para o presente projecto algumas memórias e algumas direcções para continuar a investigar as possibilidade de comunicação e inclusão através do acto radical que é a criação artística, pela intervenção formal sobre um objecto, e os conceitos aí inerentes. As ideias de transformação de um objecto retirado de um dado espaço; a atribuição de sentidos insuspeitados para uma nova configuração desse objecto [novo nome, novas possibilidades de utilização e fruição], e instalação do objecto num espaço novo; seguindo-se, consequentemente, a criação de um novo lugar-mundo ao qual ficamos ligados, afectivamente, e em grupo, para sempre. Um objecto-lugar-mundo como uma extensão de nós.


"olhar para uma bota presa numa caixa de vidro"
[uma intervenção interior...]
Museu de Glasgow, SET07